Certezas...

2007 foi um ano difícil.
Pra quem me conhece, pode soar cretino, afinal fiz coisas maravilhosas no seu decorrer.
Uma delas, uma viagem há tanto planejada (e inesquecível).
Meus filhos mais e mais incríveis, tornando-se pessoas melhores a cada dia.
Mesmo assim, quero me despedir do ano e investir em novas esperanças.
Talvez porque o estado da federação onde eu more seja "uma fábrica de más notícias", como tantos têm dito. Há algo muito pessimista - e que insiste em nos puxar pelo pé para baixo - no ar.
Amo o que faço, mas nunca foi tão difícil trabalhar.

"O mundo estã como está, por causa das certezas. A guerra e a vaidade comem na mesma mesa" Há alguns anos, em visita ao Uruguai, fui à caça de Cds de um cantor até então desconhecido por aqui. Voltei com a mala cheia de Jorge Drexler.
Ouvia ontem.
É bom esse cara!

Fronteras
Jorge Drexler

"Yo no sé de dónde soy,
mi casa está en la frontera
Y las fronteras se mueven,
como las banderas.

Mi patria es un rinconcito,
el canto de una cigarra.
Los dos primeros acordes
que yo supe en la guitarra

Soy hijo de un forastero
y de una estrella del alba,
y si hay amor, me dijeron,
toda distancia se salva.

No tengo muchas verdades,
prefiero no dar consejos.
Cada cual por su camino,
igual va a aprender de viejo.

Que el mundo está como está
por causa de las certezas
La guerra y la vanidad
comen en la misma mesa

Soy hijo de un desterrado
y de una flor de la tierra,
y de chico me enseñaron
las pocas cosas que sé
del amor y de la guerra."

Sem muitas certezas, que venha 2008!

P.S.: Daltro, "Se há amor, me disseram, toda distância se salva". Beijo.

Trato


Então está decidido!
Já que é inevitável,
- hei-las sempre, na vida -
Farei de todas as quinas,
Que estiverem em meu caminho,
Meras ex-quinas.
E logo que dobrá-las,
Ainda que sem saber,
Terei aprendido um tanto,
Virando esquinas da vida.

A doçura que perdemos

Ela olha. Ele sacode a pequena caixa de papelão, batendo junto à calçada de pedra fria. Ela acomoda-se no colo quente da mãe que ajeita as figuras de madeira enquanto passamos.
Ele olha. Busca acomodar-se. Uma enfermidade, da qual nada sei, há anos lhe acometeu. Desde muito menina, como ela, lembro de caminhar pelo calçadão do centro da cidade observando seu rastejar, de bruços, queixo levemente erguido do chão, tilintando algumas moedas na caixinha de papelão.
Faz alguns poucos anos, porém, que as mães guaranis escolheram a mesma calçada para sentar-se, o dia todo, com seus filhos a mostrar onças, macacos, jacarés, esculpidos em madeira. Há menos ainda, deixaram de sobreviver apenas do dinheiro recebido por eles. Esmolam, agora, também. Mais uma vez passo por eles. Muitos passam.
Ela olha, ele olha. Poucos vêem.
Um homem abaixa-se perto da caixinha, que ainda nem tilinta moeda alguma. É bastante cedo. Ele olha, na caixa, a bala deixada, de papel vermelho. E sorri. Começa a rastejar, com dificuldade. Por algum tempo. Empurra com a lateral dos calcanhares tortos, o peito sobre a laje fria. E rasteja. Empurra. Eles passam. Ele empurra o corpo e a caixa, carregando a bala dentro. Eles desviam. O tempo passa. Ele chega. Ela olha. Devagar, com a dificuldade de arrastar o braço longo ao longo do corpo, ele apanha a bala e estende. Ela sorri. Apanha a bala e retira o papel vermelho. Limpa, com o dedo, o nariz que escorre. E sorri. Ele sorri, fechando os olhos. Reinicia sua trajetória ao centro da calçada. E se arrasta. Nós andamos. Seguimos nossa trajetória. Ela olha. Nós não vemos. Chegaremos tarde. Nós corremos.

Be spirit

Waterboys - Spirit Lyrics

Man gets tired
Spirit don’t
Man surrenders
Spirit won’t
Man crawls
Spirit flies
Spirit lives
When man dies
Man seems
Spirit is
Man dreams
The spirit lives
Man is tethered
Spirit free
What spirit
Is man can be

Presente de um amigo, que traz o que há de melhor em mim, em meu espírito. Ele que é mais instável, maluco, esquisito e adorável ser.

Thanks ;)

Ponto de Vista

Há bastante tempo, recebi um e-mail que contava uma história. Como muitos que recebemos todos os dias, não há como saber se a história é verdadeira, ou se outro daqueles "mitos" que correm pela internet. Mas isso, na verdade, pouco importa para mim.
O fato, é que a história mexeu comigo. É uma forma de encarar as coisas e de relacionar-se com o outro, muito diferente da que estamos vivendo em termos de padrões globalizados de comportamento, onde tudo gira em torno do indivíduo, da imagem e do consumo. Trata-se de uma lógica, um bom senso que desconcerta pela obviedade da justificativa e, paradoxalmente, pela surpresa que temos diante dela.

A história falava de um brasileiro que, vivendo na Suécia, relata coisas que são marcantes em seu dia a dia por lá.

Diz, entre outras coisas, o seguinte, que foi o que mais me marcou:

"A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava no hotel toda manhã. Era setembro, frio, nevasca.. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã, perguntei:
'Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio e você deixa o carro lá no final.' Ele me respondeu simples assim: 'É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar – quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Você não acha?' Olha a minha cara! Deu para rever bastante os meus conceitos."

Não é uma bela maneira de se enxergar as coisas?

;)